Uma tendência incipiente que vai ganhar corpo nos próximos anos: o mercado voltado para quem passou dos 50, um segmento ainda negligenciado mas com poder de compra considerável. O pano de fundo para todas essas mudanças é minha aposta neste fim ano: a tecnologia, cada vez mais onipresente, deve ser vista não só como aliada, mas também como instrumento de empoderamento dos mais velhos.

A plataforma Aging 2.0, com sede na Califórnia e 65 núcleos espalhados pelo mundo, é um exemplo dessa tendência, ao concentrar seus esforços em dar apoio a iniciativas que respondam aos desafios e, claro, oportunidades, relacionados à longevidade. A tecnologia terá papel crucial para romper barreiras como o preconceito e a solidão, assim como para ampliar os conhecimentos e buscar oportunidades para quem já passou dos 60.

Ledo engano se você acha que não vai conseguir surfar nessa onda, como mostra June Fischer, uma CEO diferente da Aging 2.0: no seu caso, a sigla significa Chief Elder Officer, isto é, a diretora mais velha do pedaço. Essa médica aposentada, de 85 anos, mora em São Francisco e, em 2015, era uma das juradas da Aging 2.0 para avaliar projetos na área da longevidade em busca de financiamento. Foi contundente em suas críticas ao constatar que as propostas quase nunca ouviam os idosos ou levavam em conta suas necessidades. “Criem comigo, e não para mim!” – sua reclamação tornou-se uma bandeira e atualmente ela é consultora para o desenvolvimento de produtos voltados para os mais velhos e mentora de alunos de duas universidades.

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Olhe ao seu redor: celulares são pura tecnologia; redes sociais são tecnologia na veia. Ou seja, provavelmente você já está surfando, mas pode ampliar sua intimidade com o mundo digital e aumentar sua independência. Quem é um “novo velho”, na faixa dos 60, nem vai precisar dos aplicativos para tornar a interface dos celulares mais amigáveis. E a lista de serviços não para de crescer: há apps para se exercitar, tomar os remédios na hora certa, lembrar onde o carro foi estacionado, de armazenamento e gerenciamento de senhas, de lupa (que aumenta a imagem captada pelo celular), de botão de pânico que envia mensagem com pedido de ajuda para Twitter, SMS e e-mail. Para se divertir e afiar o cérebro, há os aplicativos de jogos, música, audiolivros e, para garantir um bom sono, de sons relaxantes para dormir. Em vez de pensar que tecnologia é bicho de sete cabeças, melhor imaginá-la como uma varinha de condão para melhorar a sua qualidade de vida.

Ainda precisamos de versões brasileiras para ações intergeracionais mais efetivas, como a posta em prática em Boston, com o apoio da prefeitura: a Nesterly é uma plataforma on-line de classificados na qual quem tem um cômodo sobrando na casa o aluga para alguém mais jovem. A empresa se encarrega de checar as referências do inquilino e convida os idosos a entrar no “clube” com argumentos sedutores: “ganhe dinheiro, garanta ajuda para as tarefas domésticas, crie novas amizades”. Já o True Link é um avanço para proteger idosos de fraudes financeiras. Fornece cartões que podem ser customizados de acordo com as necessidades do freguês: para ser aceito apenas em determinados estabelecimento ou adquirir certas categorias de mercadorias; ter limite para utilização; bloquear compras on-line ou por telefone; ou emitir alertas. Pensando bem, também precisamos criar canais para dar voz aos mais velhos e exigir seus direitos – e não há nada mais eficiente que a tecnologia para alcançar esse objetivo.