
Discussão sobre o envelhecimento do perfil demográfico não leva em conta o valor da mão-de-obra dos idosos
Pensando fora da caixa, que é o que todos deveríamos fazer, o jornal britânico “The Guardian” publicou neste domingo artigo sob medida para todos que enxergam apenas o copo meio vazio do envelhecimento da população brasileira. Segundo a publicação, o cerne da discussão econômica deveria estar no papel dos que têm mais de 50 anos no ambiente de trabalho, simplesmente porque descartar essa mão-de-obra – a cartilha que ainda vigora na sociedade – beira a insanidade. O desafio não se limita ao Brasil. Na Grã-Bretanha, a longevidade fará com que o contingente de britânicos acima dos 65 anos cresça quase 50% por volta de 2030. O próprio FMI (Fundo Monetário Internacional) teme que as aposentadorias em massa de baby boomers entre 60 e 65 se transformem num peso de difícil gerenciamento para os sistemas de previdência dos países mais ricos.
Imaginar que manter ou reincorporar idosos ao mercado vá destruir as oportunidades dos mais jovens remete ao que se chama de falácia do bolo fixo do trabalho. A tese foi criada pelo economista David Schloss, no século 19, para mostrar que o número de postos de trabalho (no caso, o bolo) numa economia não é fixo. Se fosse assim, a automação, ou seja, a substituição de trabalhadores por máquinas, levaria todas as pessoas envolvidas no processo ao desemprego perpétuo. As máquinas realmente substituíram humanos em diversas funções, reduzindo o bolo original, mas também fizeram com que ele se modificasse e se expandisse. A economia não é um jogo de soma zero no qual, se um indivíduo se apropriar de uma fatia, forçosamente vai estar tirando alimento da boca de outro. Portanto, os mais velhos que querem continuar contribuindo não podem ser vistos como uma ameaça. O que deve ser feito é um esforço nacional para a criação de empregos e qualificação da mão-de-obra, que será recompensado pelo crescimento e bem-estar social.