Esse seria um instrumento capaz de estabelecer parâmetros que ajudariam a combater o preconceito no mundo todo.

Foto: Divulgação/HelpAge

A HelpAge International é uma rede global de organizações que luta pelos direitos dos mais velhos. Uma das frentes de batalha é fazer com que a ONU (Organização das Nações Unidas) tenha uma convenção sobre os direitos dos idosos, assim como há documentos específicos para as crianças e as mulheres.

Esse seria um instrumento capaz de estabelecer parâmetros que ajudariam a combater o preconceito no mundo todo. No fim do ano passado, a entidade ouviu 450 idosos em 24 países e a pergunta era o que é independência para eles. No Peru e no Quênia, as frases foram quase idênticas: respectivamente, “é a liberdade para decidir por nós mesmos”; e “é a liberdade de fazer o que se deseja, sem ser controlado por outras pessoas”. Nas Ilhas Maurício, uma mulher de 63 anos revelou que não tem mais controle sobre seu dinheiro; na Tanzânia, um homem de 81 anos declarou: “ninguém mais me dá valor e as decisões são tomadas sem que peçam minha opinião”.

Em seu blog, a HelpAge apresenta três casos de preconceito contra os idosos que servem para profunda reflexão. A primeira história é de uma mulher de 77 anos que sempre adorou nadar – “é parte do que eu sou”, conta ela, que colecionou medalhas nas diversas competições das quais participou. Até o dia em que se exercitava numa piscina quando dois garotos, de cerca de 11 anos, começaram a rir e apontaram em sua direção dizendo: “vejam essa bruxa velha nadando!”. Ela lembra que se sentiu envergonhada por estar fazendo algo que lhe dá enorme prazer e conclui: “por acaso a idade nos torna inadequados para estar numa piscina?”. Outra idosa, internada num hospital, reflete: “você perde seu nome, sua identidade.

Você é apenas uma velha senhora doente”. Ela afirma que a pior hora é a da refeição: sem forças para usar os talheres para comer, não recebe ajuda e a atendente retira o prato intocado e a chama de mimada. Pacientemente espera o filho visitá-la, no fim do dia, para se alimentar com o que ele trouxer. Um terceiro caso é de uma mulher de 66 anos que vem se sentindo cada vez mais intimidada quando faz compras, uma de suas diversões prediletas: “eu vejo as expressões dos rostos questionando por que uma vovozinha precisa de roupas e sapatos novos! E ainda ouço comentários do tipo: ‘isso não é para sua idade, vou lhe mostrar algo mais apropriado’”.

A Assembleia Geral da ONU criou, em 2010, um grupo de trabalho para tratar da questão envelhecimento. Nos próximos dez anos, a população idosa passará de um bilhão; em 2030, haverá mais gente acima dos 60 do que abaixo dos dez. Todo esse contingente será deixado de lado nas políticas públicas? Elisha Sibale Mwamkinga, que dirige uma organização voltada para garantir cuidados de saúde na Tanzânia – país onde apenas 4% dos habitantes recebem alguma pensão e os velhos não têm outra alternativa a não ser trabalhar até morrer – afirmou no começo do mês numa reunião em Nova York: “o termo ageísmo foi cunhado há 50 anos. Se a ONU adotar uma convenção voltada para os idosos, não teremos que esperar mais 50 anos para que algo seja feito”. Vamos ficar de olho na nona reunião mundial, que acontecerá em julho.