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Objetivo é aumentar o número de anos saudáveis das pessoas, sem doenças crônicas que comprometam seu dia a dia

Tive a oportunidade de assistir a um painel virtual, no mês passado, sobre os caminhos capazes de nos levar ao aumento da expectativa de saudável, o que faz toda a diferença: significa ter o bônus da longevidade ativa sem o comprometimento funcional que muitas doenças crônicas provocam. Embora não exatamente em campos opostos, dois cientistas conhecidos mundialmente defenderam posições distintas em relação à questão. De um lado, o médico e pesquisador Nir Barzilai, diretor do Centro de Pesquisa sobre o Envelhecimento do Albert Einstein College of Medicine, em Nova York; do outro, Eric Verdin, professor da faculdade de medicina da Universidade da Califórnia, San Francisco, e CEO do Buck Institute for Research on Aging, criado em 1999 para estudar a biologia do envelhecimento.

Barzilai, que estuda indivíduos centenários e os fatores que os mantêm ativos, afirma: “nos Estados Unidos, a expectativa de vida está em torno de 78 anos e as pessoas mais velhas chegam a 115. O que aprendemos com os centenários é que, nos 30 anos que vivem a mais, conseguem ter saúde por um longo período. Só ficam realmente doentes bem próximo do fim da vida, porque, geneticamente, têm algum tipo de proteção”. Com base nesse grupo que, em suas palavras, “nos aponta a próxima etapa de pesquisa”, o cientista defende que o caminho é agir sobre o processo de senescência.

“O envelhecimento tem que ser o alvo, é preciso aprender a modulá-lo, porque só assim poderemos prevenir doenças, em vez de tratá-las quando se manifestam. Afinal, o que queremos é aumentar o número de anos saudáveis da nossa existência”.

O médico diz houve um salto em pesquisa básica – também chamada de pesquisa pura ou fundamental, voltada para aumentar nosso conhecimento – e em estudos sobre moléculas que podem retardar a velhice. “O investimento em biotech é reflexo do seu potencial”, avalia. Barzilai é um defensor entusiasmado da metformina, substância utilizada há décadas para controlar o diabetes mas que produz efeitos benéficos além do controle da glicose.

“A metformina atua em todos os marcadores do envelhecimento, aumentando a proteção contra doenças cardiovasculares, neurodegenerativas e câncer. E como consegue isso? É porque, na verdade, atua no envelhecimento”.

Já a abordagem de Verdin está focada na adoção de hábitos saudáveis, porque, na sua opinião, ainda há um longo caminho a ser percorrido até a aplicação da ciência na medicina para efetivamente aumentar a expectativa de vida:

“Que caminhos queremos seguir para desacelerar o envelhecimento: o de mudanças no estilo de vida ou de drogas que garantam o rejuvenescimento, a reversão da velhice? São duas abordagens bem diferentes”.

Preocupado com os limites a serem respeitados para deter o envelhecimento, citou o princípio que pauta a bioética: primum non nocere, termo latino que significa “antes de tudo, não prejudicar”. Verdin enfatizou que estudos recentes avaliam que o estilo de vida é responsável por 93% dos fatores de risco que trazem impactos negativos para a saúde e que um esforço conjunto de governos e políticas públicas poderia alterar a situação: “hoje em dia, o código postal é um preditor de longevidade. As pessoas vivem mais onde há lugares para se exercitar, oferta de alimentos de qualidade. Em San Francisco, a expectativa está em 88 anos, dez a mais que a média norte-americana, e nosso objetivo deveria ser otimizar essa condição para toda a população”.

Uma mobilização de grande alcance teria a possibilidade de adicionar dois anos de vida saudável a cada década. A receita? Atividade física, nutrição, sono, manejo do estresse. Verdin lembra que o simples hábito de caminhar 30 minutos por dia faz enorme diferença. “Trata-se da lógica do investimento financeiro: quanto antes começar, melhor. Entretanto, mesmo que as mudanças sejam feitas mais tarde, causam um impacto positivo no organismo”, resumiu.