Foto: Thinkstock
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Se você for ou conhecer alguém com 60 anos ou mais pode estranhar em hoje considerar esta pessoa idosa. Mas é o que afirma o Estatuto do Idoso que completa hoje, na data em que se comemora o dia do idoso, 12 anos. Com as mudanças de características e comportamento das pessoas nessa faixa etária e população ativa de uma maneira geral por mais tempo nos últimos anos, o conceito tem mudado e a idade que indica o início da vida idosa é discutida.

Um estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), com base nos dados do último censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Pesquisa e Estatística) de 2010 que aponta o aumento da expectativa de vida do brasileiro, sugere que a definição do início da faixa etária seja repensado. A pesquisa aponta que a expectativa de vida do brasileiro aumentou em cinco anos entre 1994 e 2010, passando de 68 para 73 anos, em média, e que mais da metade dos homens de 60 a 64 anos (57,2%) participavam das atividades econômicas.

Esse aumento tem sido acompanhado por uma melhoria das condições de saúde física, cognitiva e mental da população idosa assim como sua participação social. Segundo a última publicação da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) do IBGE em 2011, 939 mil pessoas tinham idade igual ou maior a 60 anos só em Santa Catarina, no Brasil a população com a mesma faixa etária representava 26,3 milhões de pessoas.

De acordo com a publicação é preciso rever o conceito de idoso, geralmente associado a características biológicas, em um período da vida que começam a apresentar sinais de incapacidade física, cognitiva ou mental, o que os tornaria, neste aspecto, diferentes dos indivíduos de menor idade. A figura estereotipada da avó que só fica em casa fazendo tricô e do avô que só gosta de assistir TV ou jogar dominó na praça não está mais presente nos grupos. Não que essas atividades não continuem frequentes, mas não é mais só isso.

Cadeira de balanço não é rotina para idosos saudáveis

Para a psicóloga e diretora do CATI (Centro de Atendimento à Terceira Idade) de São José, Vanessa Machado, que oferece atividades diárias a cerca de 850 idosos por semana, o idoso tem conseguido atuar como protagonista. “É o momento em que a pessoa para e olha para si”, diz.

Ela acredita que a possibilidade de elevar a idade de início da fase idosa tem o lado positivo, porque está se aumentando a expectativa de vida, mas reforça que talvez a expectativa esteja maior porque a partir dos 60 anos o idoso tenha outra qualidade de vida. “Define-se 65 anos e daqui um tempo passaremos para 70. Não adianta deixar para ser idoso quando já está muito debilitado. É uma provocação para reflexão, mas de repente podemos deixar que eles tenham tempo para curtir esse período, que não é o fim da vida”, reflete.

Entre as características que fazem com que os idosos tenham uma postura diferente na visão de Vanessa estão o acesso mais fácil à informação e as políticas públicas voltadas a eles, além de uma abertura maior ao diálogo. Ela observa idosos menos conservadores, que discutem assuntos antes considerados tabu e mulheres com mais voz. “Hoje eles tem um olhar voltado não para esperar o fim da vida, mas para viver e aproveitar a cada momento”, afirma.

Maria Bernadete Soares, 68, diz que quando recorda a juventude lembra que quando alguém chegava aos 50 já não fazia mais nada, “ficava só na cadeira de balanço”. “Hoje a gente não se sente idoso como naquele tempo. Eles tinham um comportamento diferente da nossa geração hoje que gosta de fazer atividades, de cuidar da saúde e do bem estar. Agora não preciso mais me preocupar com os filhos, então gosto de fazer coisas diferentes, me ocupar”, opina.

Atividades coletivas previnem o isolamento

Os termos “velho” e “inativo” servem apenas para aquilo que é pouco útil, que está quase no fim do seu propósito. É o que pensa Hermelita Alice dos Santos, 82. “Idoso vai bem, mas velho não”, fala acompanhado do marido Ivanor dos Santos, que aos 80 anos após uma aula de alongamento afirma que gosta de fazer novas amizades e cuidar da memória.

O militar aposentado Imidio Lopes Amorim, 68, é da mesma opinião dos colegas. Ele gosta de participar das atividades físicas, principalmente das aulas de dança, mas critica os homens por serem minoria nesse tipo de atividade: “Homem é mais acomodado, tanto é que nessa idade vemos muito mais mulheres atuando nos grupos do que homens, é comodismo, preguiça mesmo”. Amorim diz também que o segredo de envelhecer bem é não parar o corpo e a mente. “Parei de trabalhar, mas nunca parei de me movimentar. Gosto de lugar onde tem felicidade e não tristeza, temos que aproveitar”, indicou.

Apesar de a qualidade de vida ter melhorado, a psicóloga alerta que a população não pode esquecer que ainda há muitos casos de maus tratos e abando. Nesse sentido, o Estatuto do Idoso tem contribuído para a garantia de direitos. Ela afirma que os idosos estão mais conscientes dos seus direitos e que as políticas públicas criadas e executadas nos últimos anos também têm contribuído, mas afirma que ainda é preciso divulgar mais os serviços do disque 100. “O Estatuto ajudou e funciona. Temos que prevenir o isolamento do idoso no âmbito social e familiar, e as atividades coletivas ajudam nesse processo. Temos idosos que vem aqui todos os dias só para estar na companhia de outros”, contou.

Udesc estuda centenários do Estado

A população idosa tem crescido nos últimos anos, mas a expectativa, segundo a educadora física e pesquisadora do laboratório de gerontologia da Udesc (Universidade do Estado de Santa Catarina) Inês Amanda Streit, 43, afirma que essa curva ascendente, principalmente entre os centenários, deve começar a cair novamente em 2050 por causa do estilo de vida atual: “O crescimento da população idosa começou em 1950 devagar e foi aumentando. Para o futuro, existe uma previsão de que até 2040 alcancemos o ápice dessa expectativa de vida alta, depois declina por causa estilo de vida, muito agitada, com pouco controle do estresse”.

Buscando aprofundar o entendimento sobre o estilo de vida dos idosos, uma equipe do Laboratório de Gerontologia do Centro de Ciências da Saúde e do Esporte da universidade, coordenado pela doutora e professora Giovana Mazo, realiza um trabalho inédito no Estado que começou no fim do ano passado e pretende mapear a quantidade de pessoas acima dos cem anos no Estado, seus hábitos, qualidade de vida e os motivos que os levaram a viver por tanto tempo.

No início foi realizado um mapeamento apenas em Florianópolis, mas agora o trabalho será em todo o Estado. A pesquisa completa deve durar oito anos. As entrevistas começaram pela Grande Florianópolis e o levantamento está previsto para ser concluído em um ano e meio, para então aprofundar os estudos. As entrevistas avaliam questões físicas, psicológicas, de memória e a rede de apoio social que esta pessoas está envolvida.

A estimativa é que existem no máximo 500 centenários em Santa Catarina. Do levantamento feito na Capital já é possível afirmar que a maioria das pessoas que vivem mais de 100 anos são mulheres, dos 30 entrevistados 25 eram mulheres. Além disso, eles têm como característica forte a resiliência, o poder de superar problemas e perdas ao longo do tempo. No que diz respeito à vida social e lazer, foi observado que aquele que saíram da infância direto para o trabalho, sem aproveitar a adolescência tem mais dificuldade de realizar atividades de lazer hoje. “É um reflexo de todo um curso de vida”, justifica Inês.

A pesquisadora ainda diz que hoje os idosos de maneira geral, a partir dos 60 anos são mais ativos, fisicamente e intelectualmente e isso está diretamente ligado ao que eles viveram ao longo da vida: “Essa geração de 1945 teve adultos mais reivindicativos, que conquistaram liberdade sexual, na questão da política. É outra concepção de envelhecimento, é um idoso protagonista que toma decisões da própria vida”.