A humanidade está vivendo mais, mas não necessariamente bem. E será que é um bom negócio ganhar 30 anos de expectativa de vida se essas décadas se resumirem a uma longa e sofrida batalha contra doenças crônicas? Esse foi o ponto central da discussão do primeiro dos quatro dias do “Century Summit”, evento ligado ao Centro de Longevidade da Universidade de Stanford. O debate inicial, na quarta passada, contou com os médicos Thomas Rando, professor de neurologia da Universidade de Stanford, e Eric Verdin, presidente do Buck Institute. Verdin, por exemplo, vive em Marin County, na Califórnia, onde a expectativa de vida é de 87 anos, dez a mais que a média nos Estados Unidos. O segredo está no estilo de vida saudável dos seus moradores. Ele reconhece que as políticas públicas deveriam ter como objetivo expandir tal situação para o resto do país – o que, em outras palavras, significaria diminuir a desigualdade. O Japão pode ser a referência: a expectativa de 78 anos se aplica a praticamente todos os habitantes.

“Minha visão do futuro é a prevenção ser a chave para a longevidade”, afirmou Rando. “Teremos uma medicina personalizada, baseada na genética, através da qual poderemos corrigir problemas dos indivíduos e evitar que diversas doenças se desenvolvam”, completou. Verdin acrescentou que “a revolução da prevenção”, como chamou, não competirá com a medicina tradicional, que continuará cumprindo seu papel de curar enfermidades, mas focará no que pode ser modificado antes. “Já sabemos que fatores ambientais, como exercício, alimentação, sono e estresse, são cruciais para determinar a longevidade. Precisamos pesquisar para descobrir exatamente qual o melhor tipo de exercício, com que intensidade deve ser praticado, que dieta nutricional é a mais eficiente”, detalhou. Ambos concordam que a questão psicológica é um dado relevante que não pode ser descartado: afinal, por que tantos não conseguem abandonar hábitos prejudiciais, como fumar? “Os governos deveriam investir recursos para ajudar as pessoas a tomarem as decisões certas para seu futuro”, avaliam.

O painel seguinte trouxe especialistas para discutir como a desigualdade compromete o envelhecimento ativo. Jason Resendes, diretor-executivo da organização US Against Alzheimer, ressaltou que a saúde do cérebro depende de fatores socioambientais: “pesquisa apontou que os lugares com maior incidência de Alzheimer eram aqueles desfavorecidos, com população majoritariamente negra e hispânica. Esse é o retrato da desigualdade”. Jean Accius, vice-presidente da AARP, a associação de aposentados norte-americanos, aproveitou para citar algumas cidades nas quais a expectativa de vida pode variar décadas entre uma região e outra: “em Atlanta, essa diferença pode ser de 20 anos; em Chicago, 30 anos, e são apenas alguns quilômetros que separaram a área privilegiada da degradada. Saúde é o que comemos, como nos exercitamos, onde moramos”.