No começo de 2020, a organização Longevity Leaders, que é baseada em Londres e acompanha as principais tendências relacionadas ao envelhecimento, apostou suas fichas que a longevidade seria alçada a um dos temas mais importantes do ano. A pandemia do novo coronavírus não estava entre as previsões, mas certamente colocou os idosos no centro do debate.

Na semana passada, a entidade divulgou uma atualização das suas projeções, resultado das muitas discussões que marcaram o encontro virtual da entidade, ocorrido em maio. O documento, recém-saído do forno, se debruça sobre as ações que podem ter impacto positivo na expectativa de vida da população, abrangendo: ciência; tecnologia e negócios; prevenção e bem-estar; e o desafio de garantir segurança financeira para os anos que ganhamos com o bônus da longevidade.

Eric Verdin, CEO do Buck Institute for Research on Ageing, que mantém uma parceria com a Clínica Mayo para pesquisas na área do envelhecimento, propõe que o foco seja menos nos medicamentos que estão sendo pesquisados e mais na consolidação de informações que possam nos beneficiar imediatamente: “acho ótimo que tantos cientistas estejam desenvolvendo drogas para controlar o envelhecimento, mas vai demorar anos até que tenhamos produtos de eficácia comprovada. Nosso foco deveria estar no que temos hoje para aumentar a longevidade trabalhando em áreas como nutrição, exercício, sono e estresse. Infelizmente, o conhecimento de que dispomos nesses campos ainda está fragmentado e precisamos consolidar os dados. Por exemplo, qual é realmente o volume de exercício que impacta positivamente a expectativa de vida: serão 10 mil passos mesmo? Precisamos saber disso em nível molecular para ter como atuar. A intervenção tem que ser no organismo como um todo, porque os efeitos do envelhecimento também afetam os órgãos em seu conjunto”.

Quando se fala de prevenção, obrigatoriamente a questão do convívio social vem à tona como um dado da maior relevância, como mostram Helen Lamprell, diretora de assuntos externos da Vodafone, e Catherine McClen, fundadora da empresa britânica BuddyHub, cujo objetivo é conectar pessoas e combater a solidão.

 “A convivência entre diferentes gerações tem um papel importante e países como a Itália, nos quais esse convívio é intenso, têm lições a nos dar”, diz Helen. Para Catherine, a prevenção da solidão deveria estar na agenda das políticas de saúde pública: “como poderemos parar de criar um número cada vez maior de solitários? A urbanização veio quebrando os elos comunitários e teremos que repensar o papel da tecnologia nessas mudanças. Os mais jovens se tornaram tão dependentes do mundo virtual que não estão desenvolvendo as habilidades sociais necessárias para o contato cara a cara”.

Em todas as análises e projeções, dois outros elementos em comum: a necessidade de repensar o setor de cuidados de idosos, o que inclui de moradias com serviços à valorização da atividade dos cuidadores; e viabilizar mecanismos para garantir a segurança financeira dos idosos. Resumo da ópera: não há soluções fáceis pela frente.