Para satisfazer os curiosos pelo título, vamos esclarecer logo. O aumento da longevidade, acompanhado da redução do índice de natalidade, fez surgir, em alguns países do norte europeu, a expressão do efeito geracional que está sendo chamado de “quatro-dois-um”.

Explicando: A atual geração entra em uma fase em que, cada vez mais, terá quatro avós convivendo simultaneamente com dois filhos/pais e um filho/neto. Isso representa uma verdadeira inversão da pirâmide populacional.

Este quadro apresenta várias oportunidades e também grandes desafios que as famílias deverão incorporar — o mais rapidamente possível — aos seus planos, conversas e ações sobre questões relacionadas à convivência geracional familiar. Isso inclui pensar qualidade de vida em termos de sistemas previdenciários, reservas financeiras para conseguir manter o padrão de vida, projetos residenciais, estruturas de assistência aos idosos — seja na casa ou em uma instituição de acolhimento –, reinvenção dos projetos de vida dos idosos e formação dos jovens para a vida, tanto pessoal como profissional.

Pesquisas demonstram que as lembranças dos netos sobre seus avós estão muito mais relacionadas a vivências, emoções, compartilhamento de sensações e experiências do que ao recebimento de belos e caros presentes de cunho material. Portanto, vale estimular a convivência e o diálogo. Coloco nessa lista uma sugestão muito pessoal: realizar viagens apenas com netos, sem os pais, para lugares que tenham a ver com as origens dos ascendentes familiares, deixando que os grandes centros de entretenimento e parques bastante conhecidos fiquem à cargo dos pais.

Leia também: Seminário debate a transição demográfica brasileira e seu impacto no trabalho

No entanto, uma recomendação importante é evitar que os avós interfiram na educação dos netos, deixando essa atribuição aos pais. Esse assunto é ainda mais sensível e importante à medida que os mais jovens estão permanecendo na casa dos pais por mais tempo, o que os torna, muitas vezes, despreparados para enfrentar os desafios do aprendizado para a vida.

Precisamos considerar as novas expectativas, perfil e características da população jovem, além do surgimento de novas profissões na mesma medida em que muitas estão desaparecendo. Além disso, o mercado de trabalho vai, claramente, na direção da redução do emprego convencional. Portanto, as experiências profissionais dos avós e pais terão utilidade relativa.

Os avanços tecnológicos, globalização e novas formas de se comunicar oferecem oportunidades para todas as gerações. Os mais idosos têm hoje inúmeras alternativas de intercâmbio cultural, turismo e viagens pelo mundo. Os mais jovens devem se internacionalizar o mais rápido possível. Experiências com outras culturas representam um ativo importante no processo de formação.

A relação de desafios e oportunidades não se esgota apenas com as acima citadas. Existem muitas outras. Mas fica aqui uma provocação para que o assunto comece a fazer parte dos diálogos familiares. Especialmente com os celulares, computadores e TVs desligados.

Renato Bernhoeft é fundador e presidente do conselho de sócios da höft consultoria.