Foto: Shutterstock
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Pouco mais da metade (51%) da população brasileira quer se aposentar com menos de 55 anos. Apenas 17% acreditam que a idade mínima ideal para começar a receber os benefícios da Previdência Social seria acima de 60 anos. E, ainda, 75% não aceitam pagar mais impostos para manter as regras previdenciárias. É o que mostra pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em parceria com o Ibope.

A divulgação do levantamento ocorre num momento em que o governo interino de Michel Temer discute propostas para mudar as regras de acesso à Previdência Social. Especialistas têm apontado a necessidade de estabelecer uma idade mínima de 65 anos tanto para homens quanto para mulheres. Em média, o brasileiro se aposenta em torno dos 57 anos.

O percentual dos que acreditam que a aposentadoria deveria começar antes dos 55 anos já foi maior. Era de 54% em 2014 e de 68% em 2007. Entre os que acreditam que a idade ideal é superior aos 55 anos, o percentual passou de 31% para 43% e, depois 48%, em 2007, 2014 e 2015, respectivamente.

A CNI/Ibope entrevistou 2.002 pessoas em 143 municípios brasileiros entre 4 e 7 de dezembro de 2015. A demora na divulgação, de acordo a CNI, se deveu à falta de pessoal e ao momento político conturbado, o que levaria a uma baixa repercussão dos dados.

Genericamente, sem questionar a idade ideal, a pesquisa mostra que 65% concordam com o estabelecimento de uma idade mínima para se aposentar. Além disso, 47% acreditam que o brasileiro se aposenta mais tarde do que os cidadãos dos países desenvolvidos. O percentual cai a 38% quando o brasileiro se compara a colegas da América do Sul. O aumento da expectativa de vida descasado do aumento da idade de aposentadoria é, de acordo com especialistas, um dos principais fatores de descompasso das contas previdenciárias.

A pesquisa também mostra que pouco mais da metade (54%) dos brasileiros discorda, total ou parcialmente, da afirmação de que quem se aposenta mais cedo deve receber menos do que quem se aposenta mais tarde.

A respeito do financiamento da aposentadoria, o levantamento mostra que, caso não seja possível aumentar a arrecadação federal via tributos, seria melhor para os entrevistados cortar gastos com programas sociais (26% das respostas), investimentos em infraestrutura (22%) ou seguro-desemprego (11%) antes de rever aposentadorias, opção assinalada por 7% dos entrevistados.

“A sociedade precisa ser informada e governo que quer levar a reforma em frente precisa de estratégia de comunicação bem adequada”,disse o gerente-executivo de Política Econômica da CNI, José Augusto Coelho Fernandes. Para ele, as respostas também refletem a percepção “diferenciada” da população a respeito do tema. “Ela vê algumas mudanças, percebe algumas disfunções do sistema previdenciário, mas não percebe outras”. A reforma da Previdência com o estabelecimento de uma idade mínima é apoiada pela CNI.

Para Fernandes, é “inevitável” que as mudanças atinjam aqueles que estão hoje na ativa. “A reforma da Previdência em qualquer país do mundo é complexa, difícil e exige uso de capital político. Ou seja, os promotores das reformas tem que ir para as mesas, as ruas, mostrar porque aquilo é relevante”, analisou. Como exemplo, ele cita o caso da Suécia, onde uma carta foi enviada para cada contribuinte com informações sobre a situação geral da previdência no país e também a situação individual de cada contribuinte.

Na avaliação do gerente-executivo da Unidade de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco, há uma percepção gradual do problema. Como evidência disso, ele cita o aumento do percentual dos que apoiam a idade de aposentadoria acima de 55 anos, embora ainda não seja a maioria da população. A mudança nas regras previdenciárias é uma das 36 medidas que a entidade levou ao presidente interino Michel Temer como “indispensáveis” para tirar o país da recessão. Entre elas estão a regulamentação da terceirização, a reforma do ICMS e a aceleração das concessões de infraestrutura.