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Estudo do Banco Mundial mostra que país avançou, mas nível ainda é muito baixo

Considerando todas as faixas etárias, o índice no Brasil foi de 11%, o 101º pior entre 144 países, atrás de nações muito mais pobres, como Filipinas (26%), Bolívia (20%) e Mali (16%) e abaixo da média dos países em desenvolvimento (16%).Os dados foram levantados pelo Banco Mundial, em pesquisa com 150 mil pessoas, 1.000 delas no Brasil.

A taxa brasileira é o triplo da registrada em 2014 (4%), mas a margem de erro põe em dúvida a evolução. Considerando 3,7 pontos percentuais para mais ou menos, o número de 2014 varia de praticamente 0 a quase 8%, enquanto o de 2017 vai de 7% a quase 15%.

A fatia dos brasileiros que conseguiram guardar algum dinheiro nos 12 meses anteriores à pesquisa, independentemente do objetivo, manteve-se no mesmo patamar. Eram 28% em 2014, agora são 32,5%.

O resultado, porém, melhorou a posição relativa do Brasil entre os países americanos. De último colocado em 2014, passou a 15º entre 19 países, à frente de Haiti, Venezuela, Paraguai e Argentina.

À primeira vista, pode parecer contraditório que o número de poupadores não tenha caído durante a pior recessão da história brasileira. Mas a própria crise pode estar por trás do fenômeno.

“Se o emprego está em risco ou há muita incerteza sobre o futuro, aumenta a chamada poupança precaucionária”, diz o professor do Insper Ricardo Brito.

Especialista em finanças e decisões de poupança, Brito diz que pode ter havido também efeito da discussão recente sobre reforma da Previdência.

Em trabalho publicado em 2015, ele calcula que no Brasil é muito alta a chamada taxa de reposição da Previdência: a maioria dos aposentados do país passa a ganhar o mesmo ou até mais do que recebia no trabalho.

A perspectiva de regras mais duras e valor menor do benefício poderia levar algumas pessoas a poupar. “O verdadeiro incentivo, porém, só virá se  houver de fato uma reforma que reduza a taxa de reposição da Previdência.”

A economista sênior do Banco Mundial Leora Klapper, coautora do relatório da pesquisa, também ressalva que não há informação sobre o valor poupado, e que a tendência global foi de estagnação.

“A poupança para a velhice continua perturbadoramente baixa no Brasil, principalmente levando em conta o nível de desenvolvimento econômico e financeiro do país.”

O problema é crítico porque a situação tende a se agravar no futuro, afirma o especialista em previdência José Roberto Afonso, professor do IDP e pesquisador do Ibre/FGV.

“Na era digital, parcela crescente dos que trabalham hoje não terá emprego com carteira assinada e previdência social”, afirma ele.

Afonso cita pesquisa do Banco Central publicada em janeiro deste ano, segundo a qual só 1,9% da população investe em previdência privada.

O economista defende políticas públicas que estimulem a formação de poupança previdenciária: “O governo precisa rever a política tributária e premiar quem poupa hoje para ter renda no futuro, como no resto do mundo”.

Aos 17 anos, o estudante de engenharia elétrica Ricardo Chapiro Lasmar Lira está longe da idade de aposentadoria, mas já se preocupa com o risco de ela não ser suficiente.

Sua primeira caderneta de poupança foi aberta pelos pais, mas ele tomou para si a iniciativa de engordá-la com presentes e sobras de mesada. Hoje, reserva parte do que ganha com aulas particulares e já faz planos de poupar a remuneração do estágio.

“Sei que a expectativa de vida está subindo; vou viver por mais anos. Tento manter minhas economias como uma reserva para imprevistos.”

O despreparo para emergências é outro dado preocupante da pesquisa do Banco Mundial.

O órgão perguntou às pessoas se achavam possível levantar, para fazer frente a um imprevisto, quantia equivalente a um vigésimo do PIB per capita —no Brasil, o valor corresponde a R$ 1.400.

Mais da metade da população brasileira considerou impossível obter o dinheiro. É o 107º resultado no mundo.