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Recorde atual de longevidade foi estabelecido 21 anos atrás, quando uma francesa morreu aos 122 anos

 De 1900 para cá, a expectativa de vida mais que dobrou em todo o planeta. Mas um novo estudo sobre italianos longevos indica que ainda não estamos a ponto de esbarrar no limite máximo para a longevidade humana.

“Se existe um limite biológico fixo, não estamos perto dele”, disse Elisabetta Barbi, demógrafa da Universidade de Roma. Barbi e seus colegas publicaram o resultado de suas pesquisas na revista Science.

O atual recorde de longevidade humana foi estabelecido 21 anos atrás, quando a francesa Jeanne Calment morreu aos 122 anos. Ninguém até agora superou a idade que ela atingiu –pelo menos até onde sabem os cientistas.

Em 2016, uma equipe de cientistas do Albert Einstein College of Medicine, no Bronx, fez a ousada afirmação de que a idade atingida por Calment era ainda mais fora da norma do que parecia. Eles argumentaram que os seres humanos haviam atingido um limite fixo de longevidade, que estimaram em 115 anos.

Diversos críticos atacaram a pesquisa. “O conjunto de dados era muito precário, e as estatísticas eram incorretas”, disse Siegfried Hekimi, biólogo da Universidade McGill.

Quem quer que estude os limites da longevidade precisa encarar dois grandes desafios estatísticos: não há muita gente com idade muito avançada, e as pessoas que vivem tanto muitas vezes esquecem quantos anos têm.

Barbi e seus colegas vasculharam os registros de nascimentos italianos para identificar todos os cidadãos que tivessem chegado aos 105 anos entre 2009 e 2015. Para validar as idades, eles localizaram as certidões de nascimento.

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A equipe terminou com um banco de dados contendo os nomes de 3.386 italianos longevos. Os pesquisadores localizaram os atestados de óbito de pessoas mortas ao longo do período do estudo e calcularam a porcentagem de mortes em cada faixa etária.

Sabe-se há muito que a porcentagem de mortes em cada faixa etária começa alta na primeira infância e cai. Volta a subir aos 30 anos, e por fim dispara entre as pessoas de 70 e 80 anos.

Se a porcentagem de óbitos continuasse a subir exponencialmente entre as pessoas que chegam a velhice extrema, haveria a possibilidade de que a vida humana tivesse um limite de idade parecido com 115 anos.

Mas não foi isso que Barbi e seus colegas determinaram. Entre os italianos extremamente velhos, a porcentagem de mortes deixa de subir – a curva abruptamente se achata e chega a um platô.

Os pesquisadores também constataram que, ao longo do tempo, o índice de mortalidade das pessoas se tornava mais baixo quando elas chegavam aos 105 anos, se comparadas a centenários anteriores.

“A curva da mortalidade vem se atenuando com o tempo”, disse Kenneth Wachter, da Universidade da Califórnia em Berkeley, um dos coautores do novo estudo. “A melhora na mortalidade se estende até a idades extremas. Ainda não estamos nos aproximando de qualquer duração máxima para a vida humana.”

A nova pesquisa não explica por que a taxa de mortalidade deixa de crescer entre os idosos mais velhos.

Uma possibilidade é que algumas pessoas tenham genes que as tornem mais frágeis do que outras, deixando para trás um grupo de idosos muito resistentes.

Mas Hekimi especulou que pode haver outros fatores em jogo. Ao longo de nossas vidas, nossas células sofrem danos. Conseguimos repará-las parcialmente, e com o tempo nossos corpos enfraquecem.

É possível que, em nível celular, as pessoas muito velhas simplesmente vivam em ritmo mais lento. Como resultado, acumulam menos danos em suas células, que seus corpos são capazes de reparar.

O fato de que a taxa de mortalidade deixe de subir não significa que os centenários encontraram a fonte da juventude. De um ano para outro, eles ainda têm probabilidade de morte maior que a das pessoas casa dos 90 anos.

Exatamente quanto tempo mais os centenários viverão pode ser determinado pelo simples acaso a cada ano.